Em pequeno acreditei no Pai Natal até aos 10 anos de idade. Depois passei a acreditar somente no Menino Jesus. Os anos passam sobre nós, tão rapidamente, que nem nos apercebemos. Lembro hoje a data da minha partida para a Guerra Colonial. Foram três Natais passados longe dos entes mais queridos, namorada e amigos (um a bordo do Paquete Príncipe Perfeito e dois nas matas em Angola). Já passei, ao longo da minha vida, por Natais tristes mas sempre com Fé nos vindouros.
.Este é mais um daqueles em que não tenho motivos para celebrar, por me haver despedido recentemente daquela que nunca deixou de enfeitar a árvore e arranjar com ternura o presépio, salpicando o cenário com algodão branco a imitar os flocos de neve e as lágrimas a tombarem na folhinha de prata que imitava o lago sobre o qual colocava uns patinhos de barro pintados de branco.
.Acredito no Menino Jesus e celebro, sim, a data do seu nascimento, pedindo-lhe que através do Pai Natal me conceda a graça de ver bem sucedidas as intervenções cirúrgicas a que vão ser submetidas a mãe dos meus filhos e a minha tia (irmã da minha saudosa mãe).
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A minha oração aqui fica em forma de Conto inacabado, numa data em que me encontro preocupado mas com Fé, aproveitando para agradecer a toda(o)s a(o)s amiga(o)s que têm vindo a fazer o favor de me visitarem, quer através de correio-electrónico ou messenger, quer em forma de comentários.
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Algures nas matas gélidas da Lapónia, numa casinha de madeira, escondida permanentemente dos olhares indiscretos pela densa e alva bruma, habituaram-me assim, desde muito pequeno, a imaginar um velhote gordo e simpático, de longos cabelos e barbas da cor imaculada da neve.
Certa noite visitei-o, em sonho, tão marcado que ficou na minha mente quando, com oito anos de idade, julguei ter visto a sua mão na chaminé colocando o meu inesquecível cavalo de pau.
Fiquei desde então a saber que a sua actividade não se restringe apenas à época natalícia. Imaginava-o sempre à lareira, com um cobertor muito grosso sobre as pernas e com uma caneca de porcelana fumegante, apertada entre as luvas felpudas, aquecendo-lhe as mãos e o esófago graças a um café com leite bem quentinho por ele preparado e fervido sobre o intenso e crepitante fogo do seu braseiro, o qual também lhe ruborizava a face.
Ali ao lado, nos estábulos, dormiriam, certamente, as renas, aconchegadas umas às outras, com os seus corpos enfiados numa palha dourada, bem limpinha, seca e confortável.
Mas não! Encontrei-me sim com uma figura envolta numa intensa luminosidade de tom avermelhado, e constantemente a emitir vibrações muito fortes para todos os quadrantes do Planeta. Constatei então que para aquele Pai Natal o trabalho constituía uma actividade ininterrupta, apenas diversificada por ocasião das festividades que lembram o nascimento do Menino Jesus. Da sua cabana na Lapónia são emitidas, dia e noite, ordens firmes mas serenas, em linguagem universal, para todos os outros, os quais, esses sim, por ocasião do Natal, enfeitam o firmamento com os seus velozes trenós carregados de prendas, descendo chaminés, atravessando os exaustores de fumo das cozinhas e tocando com as suas mãos etéreas mas quentes o interior das cabecitas das crianças e as almas dos homens e mulheres que o merecem, quer tenham pele branca, amarela, negra ou vermelha.
.SANTO NATAL
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