A ALBERTO CAEIRO E À MINHA MUSA

(...) Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
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O mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
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Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...
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(Alberto Caeiro - "O Guardador de Rebanhos")
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A ALBERTO CAEIRO E À MINHA MUSA
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na encosta da serra
ela, num lapso,
qual feiticeira
em forma de malmequer
desabrochou fulgurante
olhou-o ternamente
sorriu-lhe com doçura
com as pétalas escreveu:
"amo-te"
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pobre guardador de rebanhos
não resistiu a tocar-lhe!
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recuou deslumbrado
perante a aparição
começou a arder dos olhos
o fogo pegou-se à alma.
afligiu-se o Sol
e quis ajudá-lo
deixando cair grandes lágrimas
que apitavam estridentes
escorregando pelo arco-íris
.
e todo aquele volume de lã
até então pachorrento
se agitou violento
em crescentes novelos brancos
rolando vertente abaixo
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vi o pastor ser mordido
asfixiado
engolido
pela raiva dum ciúme
que eu senti compartilhar
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o cajado rodopiou no ar
partindo o arco-da-velha
e veloz na sua queda
roxo e trémulo de pavor
caíu aos meus pés
pedindo abrigo
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agarrei-o com firmeza
e bati desesperadamente
no meu pesadelo
com pressa em acordar...

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