Quero começar o ano agradecendo a toda(o)s a(o)s amiga(o)s que tiveram a gentileza de me presentearam com as suas palavras de carinho e votos de felicidades, quer através de comentários quer através de e-mails.
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Não iniciarei publicando um poema, como desejaria, mas sim um pequeno conto, em tom de revolta. Infelizmente, muitas das pessoas que fazem o favor de me lerem já conheceram ou conhecem alguém a quem foi roubado ou sonegado o pão-nosso-de-cada-dia, através do processo ignóbil de despedimentos compulsivos ou falta de pagamento do salário em tempo útil, tornando uma época que se desejaria festiva num autêntico pesadelo.
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O ACIDENTE DO PATRÃO
.Eram seis horas e trinta minutos e naquele final de madrugada quente de Julho o potente BMW negro acabava de ultrapassar, com alguma facilidade - o velocímetro registava os 180 km/hora - a fila de quatro camiões que seguiam no sentido Sesimbra-Fogueteiro. Terminada a quádrupla ultrapassagem aquela máquina veloz abandonou bruscamente a faixa contrária como que inclinando as suas asas imaginárias para a direita, voltando de imediato à horizontalidade e, já na sua mão, prosseguiu "voando baixinho" - expressão que o seu "piloto" garbosamente utilizava sempre que se referia à frenética condução, habitualmente desrespeitosa que praticava. Depois, com a "pista" livre pela sua frente, aquele exímio condutor acelerou ainda mais e foi repentinamente acometido por uma "branca" - ou "escura" - total. Havia perdido a consciência...
O motorista do último camião "sobrevoado" assustadoramente pela esquerda circulava ainda e somente a uns escassos cinquenta metros de distância da "aeronave negra" e assistiu, encostou, apelou por assistência, ajudou a socorrer e acabou por relatar detalhadamente aquilo a que os seus olhos ainda incrédulos - consumidores vigilantes de milhares de quilómetros de asfalto - acabavam de presenciar.
O BM pura e simplesmente havia ignorado a curva para a direita, havendo atravessado a faixa de rodagem contrária, indo embater violentamente numa barreira de terra que ali se encontrava ladeando a estrada, tendo a frente da viatura empinado e subindo cerca de cinco metros de altura. Com a força do embate a porta do condutor, "alérgico" a cintos de segurança - e nestas circunstâncias ainda bem - abriu-se, tendo aquele corpo roliço sido cuspido violentamente contra o solo. O BM, imediatamente a seguir ao "looping", na sua trajectória desgovernada pelos ares acabou por se deter, lateralmente, partindo-se ao meio, no tronco dum velho mas robusto, pacífico e sonolento pinheiro bravo.
Quase de imediato o aproximar contínuo e veloz das sirenes estridentes dos Bombeiros e da Guarda Nacional Republicana, com os seus rotativos azuis a misturarem-se no ar, nas árvores e no solo, encandeando todo o cenário daquele palco de horror, o qual se poderia ter tornado numa tragédia dantesca com consequências dramáticas para terceiros inocentes.
Ao sinistrado, enquanto assistido no Hospital Garcia de Horta, em Almada, foi dada ordem de prisão. Não! Não foi por excesso de velocidade!
O Processo Judicial viria a referir que a viatura circulava a uma velocidade de 60 km/hora (?).
Àquele "respeitável" cidadão, arquitecto e bem sucedido empresário da construção civil e obras públicas, haviam sido apreendidas pela GNR, no local do acidente, vários gramas de heroína, contidas em cápsulas e acondicionadas numa caixinha de prata, juntamente com a medicação. Posteriormente, na sua residência, foram encontrados mais alguns frasquinhos contendo o mesmo estupefaciente. Contudo, ao que se viria a apurar, aquilo foi tudo um grande mal-entendido pois tratava-se dum medicamento prescrito, manuseado e comercializado a pessoas de condição sócio-económica média-superior por um laboratório duma farmácia situada na Estrada da Luz, em Lisboa, e com sede na cidade do Porto e, pasme-se, destinando-se a curas de emagrecimento!?
Em desespero de causa a esposa e sócia do arguido, mantendo a pose sempre artificial e conseguida magistralmente graças às mãos dos excelentes profissionais do Salão da esteticista e cabeleireira Marina Cruz, e naquele ar de varina irritada que lhe era tão peculiar, lá ia gritando às pessoas a quem contava a história do acidente, que os GNR's que haviam estado no local do acidente lhe roubaram uma medalhinha de prata na qual estava gravada e benzida a imagem de um santo. Santa ignorância!!! Quem iria acreditar nessa história? No meu modesto entender tudo indicava que a medalhinha, a existir, jamais mereceria a cobiça dos elementos da Brigada de Trânsito da GNR ao ponto de a furtarem. O que aconteceu, certamente, foi ter ficado enterrada no local do acidente; além disso, nunca se constou que o indivíduo acidentado temesse ou venerasse Santo António de Lisboa e Pádua e muito menos que o culto, moralista e bondoso Santo acompanhasse, mesmo em medalhinha de prata, tamanho e ignóbil pecador...
Os empregados respeitavam aquele patrão. Ele tinha uma capacidade de trabalho invulgar, tornando-se motivo de falatório velado em algumas insinuações relativamente ao facto de toda aquela resistência poder ser consequência da ingestão regular de algum "estimulante".
Após a sua convalescença o comportamento deste patrão - compartilhado pela sua esposa e sócia-gerente da firma de construção e obras públicas que figurava entre as sessenta maiores em Portugal - para com os seus colaboradores mais dedicados tornou-se lamentável, colocando aquela casa próspera na lista das empresas privadas e públicas que, posteriormente, a comunicação social ajudou a denunciar. Sujeitaram os seus colaboradores que tomaram conhecimento próximo do Processo às mais abomináveis humilhações, atrocidades psicológicas de vária espécie, incidindo a perseguição naqueles com idade mais avançada por forma a cansá-los e traumatizá-los para o resto das suas vidas, ou seja: obrigando-os à rescisão unilateral dos seus contratos de trabalho, ou, aos mais resistentes, à rescisão por mútuo acordo. E tudo isto de acordo com a legislação laboral vigente e alterada em consequência dum procedimento que se estava a tornar num flagelo.
Somente quem sofreu durante tanto tempo - este tipo de sofrimento prendia-se, obviamente, com a resistência ou a maior ou menor facilidade em conseguir um novo emprego - pode aquilatar os danos causados e os traumas que se tornaram num "valor acrescentado adquirido" para o tão curto resto da vida.
Eu também fui atingido...
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27 comentários:
Num primeiro momento António só lhe posso dar os meus parabéns pela sua coragem, depois por saber que aquilo que narra é a mais pura verdade e depois ainda por conhecer a sua honestidade. Infelizmente em Portugal só há patrões e não empresários.
Agora só para rir, aquela tal senhora da medalhinha será demente?
Beijinhos, muitos
Isabel
Olá, Antônio.
De facto, amigo. Há sofrimentos com os quais nos solidarizamos mas, somente quem os vive, consegue aquilatá-los...
Muito bom tê-lo em regresso.
Que 2009 seja especial para ti e tua família.
Abraços.
Otimo post,parabéns.
Fim de semana de luz.
beijooo.
Querido António, obrigada pela tua coragem em escreveres este texto... Tens razão pessoas como essas, continuam a mandar para o desemprego, milhares de pessoas que são o único sustento das suas famílias... A tua honestidade deixou o meu coração a sangrar...
Que Deus te proteja sempre... Mereces Amigo!...
Um grande abraço de muito carinho e amizade,
Fernandinha
Penso que nunca devemos calar a revolta. Situação deplorável a que relatas. Sem mais comentários. Beijos.
Venho dar-lhe um beijinho e dizer-lhe que vou tentar voltar à normalidade da escrita.
2008 acabou, estamos em 2009, esperemos que comece bem.
Nunca devemos deixar as realidades por mãos alheias e detectá-las e denunciá-las sempre.
Obrigada pela partilha.
Beijo
Isabel
Admiro tudo o que escreve, assim como tambem admiro sua coragem e determinação, caro poeta.
Que 2009 seja um ano mais justo, para todos nós.
Que nossa esperança não sedesfaça na fumaça dos fogos de artificios.
Meu carinho e respeito.
Glória
Boa Noite António
Este texto chocou-me porque mostra a triste realidade do país em que vivemos. Em vez de ajudarem e consolidarem os empregos preferiram acabar com tudo e dar um mísero subsídio de desemprego que mal dá para uma sopa diária.
Poucos fazem ideia de quanto já se gastou em subsídios de desemprego e quantos já terminaram e hoje não contam nem para emprego nem desemprego. São numeros mortos.
Esta politica continua a favorecer os poderosos e os amigos do aparelho partidário.
Nas notícias hoje diziam que em média os F. Públicos aposentados recebem 1400 euros de reforma.
Pura mentira e demagogia sem nome.
Apenas alguns recebem reformas muito altas porque a maioria nem chega aos 500 euros. As notícias são um meio provocatório de quem trabalha para que todos pensem que todos os reformados da f. pública estão muito bem na vida.
Nem falemos de perseguições....
Neste País onde nada acontece....
Olá António
Amigo, quem fala verdade não merece castigo.
Dou-lhe os parabéns pela coragem em delatar este imbróglio. Pena é, isso sim, ter sido vitíma de mais um patrão sem escrúpulos. Como eu trabalho, tenho na família e até sou amigo de alguns Advogados, sei perfeitamente daquilo que eles são capazes.Porém a bitola não se aplica a todos!
Um abraço e boa semana.
António, que em 2009 seus bem iniciados posts fluam, é o que espero.
Se em Portugal a coisa descamba para este lado, não difere em nada a situação brasileira. Os mais ricos também aqui (como suponho que por toda parte) sempre têm suas mazelas facilmente acobertadas, e aos mais pobres sempre ficam as piores consequências. Mas quem foi que disse que a vida é justa?
Em resposta ao amigo do António sobre a situação dos funcionários públicos só venho acrescentar que estes são os bodes expiatórios encontrados pelo Estado. E as reformas dos funcionários públicos são uma miséria na sua generalidade, aliás os seus salários são os mais baixos que se registam no mercado de trabalho, já para não falar da impossibilidade de ficarem doentes, doentes ou não, a arrastarem-se têm de garantir os seus postos de trabalho.
Beijinho António
Isabel
Pois é... assim é que ela acontecem. Adoro as suas histórias...
Não havia melhor maneira de começar o ano.
Um grande abraço.
Gonçalo
Olá Antonio!
Obrigada pela tua visita! Aguardo-te mais vezes!
Sim, vou procurar assistir ao documentário e depois te falo alguma coisa. Minhas indagacoes no meu post, sao óbvias quanto a minha solucao.
Parece que a tua revolta no teu texto faz sentido, nao?? Parabéns!
Um grande abraco!
Gostei muito do seu conto agridoce, António.
Amigo:
Convido-o para ir nos meus blogs, pois tenho quatro e publiquei em todos:
http://wwwrenatacordeiro.blogspot.com
http://poemasscancoes.blogspot.com
http://docesspoesias.blogspot.com
http://tristoeisolda.blogspot.com
Ficaria muito honrada com a sua visita. Não é preciso ir a todos os blogs, basta escolher um.
Um abraço,
Renata Cordeiro
Ao invés de desesperar-se as pessoas deveriam fazer das situações adversas oportunidades de descobrirem novos talentos e novas portas...
Nesses momentos é que descobrimos nossos reais e verdadeiros valores;também podemos ser estimulados a criatividade devido a necessidades.As dificuldades impulsionam aqueles que são guerreiros de certa forma; a conquistarem ;desafiar-se aquilo que jamais imaginou alcançar!
Culpar o governo;culpar as pessoas apenas é muito pouco!há que se tomar atitudes práticas de fé;ousadia e coragem...Há que se ter visão do melhor e ir atrás de seus objetivos sempre!
Com carinho;
Adriana
Como o meu amigo nos seus passeios não me visita venho eu visitá-lo, eu encontro-o por aí nas minhas voltas por vezes não diárias, mas com alguma assiduidade.
Um beijo António e espero que tudo esteja bem consigo.
Amiga Isabel
Olá António
Apenas uma visita e de "médico"! Estou atrapalhada com um trabalho e sem tempo.
Bacino
Isabel
tantos já foram atingidos e continuá-lo-ão a ser enquanto houver "PATRÕES" primeiro e HOMENS depois.
Foi um prazer enorme ler estas palavras que denunciam e gritam muito alto o que vai aí dentro do peito.
MV
Dizem que o sofrimento nos deixa mais forte, espero que seja verdade.
Suas palavras ,seus textos são ótimos de ler.
beijos
Olá amigo do além-mar:
Como estais ?
Devo dar-te os parabéns pela coragem de escrever este post.
A propósito, qdo puderes, passa lá em meu cantinho, acabo de postar e tua presença muito me honra.
Beijinhos
._______querido António
infelizmente ainda hoje (como diz a Isabel e muito bem) temos patrões e não empresários e o mais triste é que vamos continuar a SÓ ter patrões!!!
beijO com muito carinho
Olá, Antônio.
Onde andas, amigo?
Sinto a falta de teus textos.
Abraçamigo.
Oi querido António, saudades...
vc me adicionou para seguir meu blog no Esterança. Tive um problema com meu antigo endereço, o blogue continua o mesmo, mas com outra URL:
http://esteranca.blogspot.com
(sem cedilha)
Por favor, adicione-me de novo, sua presença em meu blogue é imprescindível!
Obrigada e desculpa o transtorno!
abraços da ESTER.
Acabo de ler o seu poema amoroso para a nossa amiga comum, e como estou muito contente com as notícias que tive dela, venho aqui para lhe desejar um dia muito feliz, António!
Nossa, amiga, que atrocidade! Você, que também foi atingido, fez muito bem de publicar aqui o que sabe. É preciso que mais pessoas saibam, como eu, que estou em outro país.
Bom, vim convidar-lhe para mais um post no Galeria, mas estou até com vergonha. Quando e se quiser ir, vá.
Um abraço,
Renata
Olá António
Passo para o cumprimentar e deixar-lhe um bacino,
Isabel
Passando para comentar em novo post, mas nada !!??
Bom, então até o próximo
Bjs
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